segunda-feira, 27 de junho de 2016

É POSSÍVEL CONTROLAR O PENSAMENTO? - JIDDU KRISHNAMURTI


E não se trata de controlar o pensamento. 
Pelo contrário, uma mente controlada é incapaz de receber a verdade.


Deseja saber o interrogante como se controla o pensamento. Primeiramente, para que você possa controlá-lo, precisa saber o que é o pensamento e quem é o agente que controla. Representam eles dois processos distintos ou um fenômeno único? Você precisa, primeiro, compreender o que é o pensamento, para poder dizer "quero controlar o pensamento", e precisa, também, conhecer o "controlador". Existe "controlador" sem o pensamento? Se você não tem pensamentos, existe pensante? O pensante é o pensamento; o pensamento não está separado do pensante; ambos constituem um processo único. 

Assim, pois, restam-nos apenas, pensamentos, tendo desaparecido o pensante. Embora você pronuncie as palavras "eu penso", isso representa apenas uma forma comunicação. O que há realmente é apenas um estado, no qual existe pensamento. E o pensamento cria o pensante, o qual, então, comunica o seu pensamento. O pensante é, meramente, a "verbalização" do pensamento.



 Jiddu Krishnamurti 

Quando uma ideia se torna importante, torna-se então importante o padrão, a ideologia, e a revolução baseada numa ideia se torna importante. Mas, revolução baseada numa ideia não é revolução, é somente continuação, a continuidade modificada, de uma ideia velha, de uma ideia de ontem.


Cabe-nos, pois, verificar o que é pensamento. Saberemos, então, se é ou não possível controlá-lo, e porque desejam controlá-lo. Pode existir um critério inteiramente diferente para se por fim ao processo do pensamento, mas não é por meio do controle. Porque, no momento em que vocês exercem controle, em que fazem um esforço de vontade, vocês não compreendem o pensamento. Estão, então, simplesmente, a condenar um pensamento e a justificar outro. Aquele que justificam, vocês desejam conservar, e aquele que condenam, desejam rejeitar. Vejamos, pois, o que se entende por pensamento.


Que é pensamento?


 Sem a memória não há pensamento, há? O pensamento é resultado da experiência acumulada, que é o passado, não é? Sem o passado não pode haver pensamento no presente, ou pode? O pensamento, pois, é uma reação do passado ao desejo do presente. Isto é, o pensamento, indubitavelmente, é reação da memória. Mas, que é memória? A memória, a conservação da lembrança, é a verbalização da experiência, não é verdade? Há desafio e reação — o que significa experiência — e essa experiência é verbalizada. Essa verbalização cria a memória; e a reação da memória ao desafio é o pensamento. Portanto, pensamento é verbalização, não é?

Não sei se vocês já tentaram pensar sem palavras. No momento em que pensam, necessitam de palavras. Não quero dizer que não haja um estado do qual não exista verbalização. Não estamos discorrendo a esse respeito. O pensamento é a palavra. Sem a verbalização, sem a palavra, sem o pensamento — o pensamento que nós conhecemos — não existe. Se perceberem, pois, que a palavra — a verbalização — é o processo do pensamento, não se trata então de controlar o pensamento, mas sim de fazer desaparecer o pensamento como "verbalização". 


Sempre que há verbalização de uma experiência, existe, forçosamente, pensamento. Pensar é verbalizar. Nosso problema, pois, não é o de saber como controlar o pensamento, mas, sim, de saber se é possível deixarmos de verbalizar, de por tudo em palavras. Porque pomos em palavras as nossas respostas e reações? Porque fazemos isso? Por uma razão muito óbvia: para comunicarmos, para contarmos a outro o nosso sentimento. 

Verbalizamos, também, com o fim de fortalecer o sentimento, não é verdade? — como fim de fixá-lo, de contemplá-lo, de recaptar o sentimento que nos fugiu. A palavra tomou o lugar do sentimento que se foi. Assume, desse modo, a palavra toda a importância, em lugar do próprio sentimento, da reação, da experiência. A palavra tomou o lugar da experiência. Desse modo, a palavra se torna pensamento, o qual inibe ao "experimentar".

Nosso problema, pois, é o seguinte: é possível deixarmos de "verbalizar", de dar nome, de determinar? Isso é possível, evidentemente. Vocês o fazem com frequência, porém, inconscientemente. Quando defrontam uma crise, com um súbito desafio, não há verbalização. Vocês a enfrentam por maneira completa. Isto é possível, portanto, mas somente quando a palavra deixa de ser importante, o que significa: quando o pensamento, a ideia, deixa de ser importante. 


Quando uma ideia se torna importante, torna-se então importante o padrão, a ideologia, e a revolução baseada numa ideia se torna importante. Mas, revolução baseada numa ideia não é revolução, é somente continuação, a continuidade modificada, de uma ideia velha, de uma ideia de ontem.

Nessas condições, a palavra só se torna importante quando não é importante o experimentar, quando não há o "estado de experimentar", que é enfrentar o desafio sem verbalização, sem a cortina protetora das palavras. Vocês dão vida à palavra, que é memória, quando é essa memória que enfrenta o desafio; porque a memória em si, não tem vida, não é verdade? 

A palavra, por si só, não tem significação. Ela só ganha vitalidade, força, ímpeto, plenitude, quando é o passado, a memória, que enfrenta o desafio. Por consequência, pela ação do vivente, o que está morto volta à vida. E visto que ganha mais vida, daquilo que si está morto, o pensamento se torna sumamente importante. 

O pensamento, por si só, não tem significado algum, a não ser em relação como o passado, que é verbal. E não se trata de controlar o pensamento. Pelo contrário, uma mente controlada é incapaz de receber a verdade. Mente controlada é mente ansiosa, mente que resiste, que reprime, que substitui, e uma mente em tais condições está cheia de temor; e como pode estar tranquila uma mente cheia de ansiedade? Só pode haver tranquilidade quando a mente não está presa na rede das palavras. Quando a mente não está mais a verbalizar toda experiência, acha-se ela, então, num "estado de experimentar".

Quando há "experimentar", não há o que experimenta nem coisa experimentada. Nesse "estado de experimentar" que é sempre novo, que sempre é ser — embora se possa comunicar esse ser mediante o uso de palavras — o indivíduo sabe que a palavra não é a experiência que a palavra não é a coisa, que ela nenhum conteúdo tem; só a própria "experiência" é repleta de conteúdo. 


O "experimentar" não é, pois, verbalização. "Experimentar" é a mais elevada forma de compreensão, porquanto é a negação do pensar. A forma negativa de pensar é a mais elevada forma de compreensão; e não pode haver pensar negativo, quando há verbalização do pensamento. Não se trata, pois, absolutamente, de controlar o pensamento, mas de se ficar livre do pensamento. É só quando a mente fica livre do pensamento, que há percepção daquilo "que é", do que é terno, do que é a Verdade.

Jiddu Krishnamurti — O que te fará feliz?


Imagens: Reprodução



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